Estratégia chinesa que pode redefinir a economia mundial entra em nova fase

Encontro do Partido Comunista em Pequim definirá diretrizes do plano quinquenal 2026-2030; especialistas analisam como decisões anteriores transformaram o cenário global

ECONOMIAPOLÍTICA

10/21/20256 min read

Os principais dirigentes da China estão reunidos em Pequim nesta semana para estabelecer as diretrizes e prioridades econômicas que guiarão o país até o final da década. De acordo com informações da BBC News, a Plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês servirá como base para a elaboração do próximo plano quinquenal, documento estratégico que orientará a segunda maior economia do planeta entre 2026 e 2030.

Antecipação de diretrizes na quarta-feira

Embora o documento completo do plano quinquenal seja divulgado apenas em 2026, autoridades chinesas devem antecipar algumas das principais diretrizes estratégicas já na quarta-feira (22/10), conforme reportado pela BBC News.

Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que o modelo chinês de governança, estruturado em ciclos de planejamento de longo prazo em vez de ciclos eleitorais curtos, tradicionalmente produz decisões com impacto que transcende as fronteiras do país.

O poder dos planos quinquenais chineses

"Os planos quinquenais definem o que a China quer alcançar, indicam a direção que a liderança pretende seguir e mobilizam os recursos do Estado para atingir esses objetivos predefinidos", explica Neil Thomas, pesquisador de política chinesa do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, em entrevista à BBC News.

Embora as imagens de centenas de burocratas em reuniões formais possam parecer pouco atraentes à primeira vista, a história econômica recente demonstra que as decisões tomadas nesses encontros frequentemente produzem repercussões profundas no cenário econômico global.

1981-1984: A era da "Reforma e Abertura"

Virada histórica em 1978

Segundo análise da BBC News, muitos integrantes do Partido Comunista Chinês consideram 18 de dezembro de 1978 como o marco inicial da trajetória da China rumo ao status de potência econômica mundial.

Durante quase três décadas, a economia chinesa havia sido rigidamente controlada pelo Estado. O planejamento centralizado ao estilo soviético fracassou em elevar a prosperidade, mantendo grande parte da população em situação de pobreza.

O país ainda se recuperava do período devastador sob o governo de Mao Tsé-Tung. Campanhas como o Grande Salto para Frente (1958-1962) e a Revolução Cultural (1966-1976), conduzidas pelo fundador da China comunista para remodelar radicalmente a economia e a sociedade, resultaram na morte de milhões de pessoas.

Deng Xiaoping e a abertura econômica

Ao discursar na Terceira Plenária do 11º Comitê em Pequim, o então novo líder chinês Deng Xiaoping proclamou que era momento de incorporar elementos da economia de mercado ao sistema chinês. Sua política de "reforma e abertura" tornou-se o eixo central do plano quinquenal iniciado em 1981.

A implementação de zonas econômicas especiais de livre comércio, juntamente com os investimentos estrangeiros que elas atraíram, transformou radicalmente a vida dos cidadãos chineses.

Impacto além das expectativas

Segundo Neil Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, os objetivos estabelecidos naquele plano quinquenal foram superados de forma extraordinária.

"A China de hoje vai além dos sonhos mais ousados das pessoas dos anos 1970, em termos de restauração do orgulho nacional e de consolidação de seu lugar entre as grandes potências mundiais", afirma o pesquisador à BBC News.

O "choque da China" na economia global

O processo também remodelou profundamente a economia mundial. No século 21, milhões de postos de trabalho industriais ocidentais foram transferidos para novas plantas fabris nas regiões costeiras chinesas.

Economistas denominaram esse fenômeno de "choque da China", movimento que acabou alimentando a ascensão de partidos populistas em antigas áreas industriais da Europa e dos Estados Unidos. A reação incluiu medidas como a imposição de tarifas e retaliações comerciais promovidas pelo ex-presidente americano Donald Trump, que justificou as ações como tentativa de recuperar os empregos industriais perdidos para a China nas décadas anteriores.

2011-2015: Foco em "Indústrias Estratégicas Emergentes"

Consolidação como "fábrica do mundo"

O status da China como "fábrica do mundo" se consolidou definitivamente com sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001. Entretanto, conforme reportado pela BBC News, na virada do século o Partido Comunista Chinês já planejava o próximo movimento estratégico.

Evitando a "armadilha da renda média"

Havia preocupação de que o país caísse na chamada "armadilha da renda média" — situação em que uma nação em desenvolvimento deixa de oferecer mão de obra barata, mas ainda não desenvolveu capacidade de inovação suficiente para produzir bens e serviços de alto valor agregado.

Para evitar esse cenário, a China iniciou investimentos massivos nas denominadas "indústrias estratégicas emergentes", terminologia utilizada oficialmente pela primeira vez em 2010. O foco incluía tecnologias verdes, especialmente veículos elétricos e painéis solares.

Liderança em energia verde e tecnologia

Enquanto a mudança climática ganhava protagonismo na agenda política ocidental, a China mobilizava recursos sem precedentes para impulsionar esses novos setores industriais.

Atualmente, segundo dados reportados pela BBC News, a China lidera globalmente em energias renováveis e veículos elétricos, além de controlar praticamente todo o fornecimento mundial de terras raras — elementos essenciais para a fabricação de chips e o desenvolvimento de inteligência artificial (IA).

Poder geopolítico através dos recursos estratégicos

A dependência mundial desses recursos estratégicos concede à China uma posição privilegiada de poder. A recente decisão chinesa de restringir exportações de terras raras motivou Trump a acusar a China de tentar "manter o mundo como refém", conforme reportado pela BBC News.

Embora as "indústrias estratégicas emergentes" tenham sido formalmente incorporadas ao plano quinquenal de 2011, a tecnologia verde já havia sido identificada como potencial motor de crescimento e instrumento de poder geopolítico pelo então líder chinês Hu Jintao no início dos anos 2000.

"O desejo de tornar a China mais autossuficiente em economia, tecnologia e liberdade de ação vem de longa data, faz parte da própria essência da ideologia do Partido Comunista Chinês", explica Neil Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, à BBC News.

2021-2025: Era do "Desenvolvimento de Alta Qualidade"

Nova fase estratégica sob Xi Jinping

Nos planos quinquenais mais recentes, a China passou a priorizar o conceito de "desenvolvimento de alta qualidade", formalizado por Xi Jinping em 2017, segundo informações da BBC News.

O objetivo central é desafiar a hegemonia tecnológica dos Estados Unidos e posicionar a China na vanguarda do setor de tecnologia global.

Casos de sucesso doméstico

Exemplos de sucesso doméstico chinês incluem o aplicativo de vídeos TikTok, a gigante de telecomunicações Huawei e o modelo de inteligência artificial DeepSeek, que ilustram o avanço tecnológico do país.

Desconfiança ocidental e restrições

O progresso chinês, entretanto, é encarado com desconfiança por nações ocidentais, que o consideram uma potencial ameaça à segurança nacional. As proibições e restrições impostas a tecnologias chinesas afetaram milhões de usuários globalmente e provocaram tensões diplomáticas significativas.

Rumo à autossuficiência tecnológica total

Dependência de inovações americanas

Até o momento, o avanço tecnológico chinês tem dependido parcialmente de inovações americanas, como os semicondutores avançados produzidos pela Nvidia, conforme análise da BBC News.

Com a proibição de venda desses componentes para a China, imposta pelo governo Trump, especialistas preveem que o conceito de "desenvolvimento de alta qualidade" evolua para as "novas forças produtivas de qualidade" — novo lema introduzido por Xi Jinping em 2023.

Prioridade à independência tecnológica

Essa nova abordagem desloca o foco para o orgulho nacional e a segurança do país, segundo análise da BBC News. Na prática, isso significa posicionar a China na linha de frente da produção de chips, computação quântica e inteligência artificial, eliminando a dependência de tecnologia ocidental e tornando-se imune a embargos.

A autossuficiência em todos os setores estratégicos, especialmente nos níveis mais elevados da cadeia de inovação, deve constituir um dos pilares fundamentais do próximo plano quinquenal.

Segurança nacional como missão central

"A segurança nacional e a independência tecnológica são hoje a missão definidora da política econômica da China", explica Neil Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, à BBC News.

"Mais uma vez, isso remete ao projeto nacionalista que sustenta o comunismo chinês, garantindo que o país nunca mais seja dominado por potências estrangeiras", conclui o especialista.

Implicações para a economia global

As decisões que emergirão da Plenária desta semana terão repercussões que ultrapassam em muito as fronteiras chinesas. Como demonstram os ciclos anteriores de planejamento quinquenal, as estratégias econômicas definidas em Pequim historicamente remodelam cadeias de suprimento globais, influenciam mercados de commodities e alteram o equilíbrio de poder tecnológico e econômico mundial.

O mundo aguarda para saber quais serão os próximos movimentos da segunda maior economia do planeta — e como eles redefinirão novamente o cenário econômico global nos próximos cinco anos.

Fontes: BBC News, Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, Organização Mundial do Comércio (OMC), Nvidia

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