Facções criminosas chegam a 45% das cidades da Amazônia Legal, aponta Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Comando Vermelho lidera expansão territorial; estudo identifica 17 grupos criminosos brasileiros e estrangeiros atuando nos nove estados da região
MACAPÁ


A presença de facções criminosas cresceu significativamente e chegou a 45% dos municípios que compõem a Amazônia Legal, segundo pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), conforme reportado pelo g1.
Das 772 cidades da região, 344 apresentaram alguma evidência da presença de organizações criminosas, de acordo com o levantamento divulgado pelo FBSP. O aumento é de 32% em relação a 2024, quando 260 municípios tinham facções instaladas, segundo dados publicados pelo g1.
Composição da Amazônia Legal
Nove estados compõem a Amazônia Legal Brasileira, conforme informações do g1: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Controle de rotas de tráfico explica expansão
Para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo análise divulgada pelo g1, o crescimento está diretamente ligado ao controle das rotas de tráfico de drogas na região, incluindo áreas estratégicas como o Alto Solimões.
Crimes locais, entre eles o garimpo ilegal, também contribuíram significativamente para a expansão territorial dos grupos criminosos, conforme apontado pelo estudo do FBSP e reportado pelo g1.
Quarta edição do estudo
Esta é a 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, segundo informações do g1. O trabalho conta com parceria de importantes instituições:
Instituto Clima e Sociedade
Instituto Itausa
Instituto Mãe Crioula
Laboratório Interpretativo Laiv
17 facções identificadas na região
São 17 grupos diferentes identificados pelos pesquisadores do FBSP, conforme divulgado pelo g1, incluindo organizações nacionais de grande porte como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de grupos locais e até internacionais, como o Tren de Aragua, da Venezuela, e a ex-Farc, da Colômbia.
Lista completa das facções
Segundo o estudo do FBSP publicado pelo g1, as 17 facções identificadas na Amazônia são:
Comando Vermelho (CV) - Rio de Janeiro
Primeiro Comando da Capital (PCC) - São Paulo
Amigos do Estado (ADE)
Bonde dos 40 (B40)
Primeiro Comando do Maranhão (PCM)
Família Terror do Amapá (FTA)
União Criminosa do Amapá (UCA)
Comando Classe A (CCA)
Bonde dos 13 (B13)
Bonde dos 777 (dissidência do CV)
Tropa do Castelar
Piratas do Solimões
Bonde do Maluco (BDM)
Guardiões do Estado (GDE)
Tren de Aragua (Venezuela)
Estado Maior Central (ECM) (Colômbia)
Ex-Farc Acácio Medina (Colômbia)
Comando Vermelho domina 83% das cidades com facções
Segundo o estudo do FBSP divulgado pelo g1, o Comando Vermelho tem influência em 83% do total de cidades com presença de facções, chegando a 286 municípios — seja de forma hegemônica ou em disputa com outros grupos criminosos.
Expansão expressiva do CV
Originário do Rio de Janeiro, conforme dados do Fórum reportados pelo g1, o CV domina o crime organizado em 202 cidades, enquanto disputa a hegemonia com rivais em outros 84 municípios.
Houve crescimento de 123% de sua presença na Amazônia desde 2023, quando estava presente em 128 cidades, segundo números divulgados pelo FBSP ao g1.
PCC presente em 90 municípios
O Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo dados do Fórum publicados pelo g1, está presente em 90 municípios, com controle da criminalidade em 31 e disputando o domínio em outros 59.
Em 2023, conforme informações do FBSP divulgadas pelo g1, o PCC estava em 93 cidades, indicando uma leve retração em comparação com o CV.
Descentralização favoreceu expansão do CV
Segundo David Marques, gerente de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em declaração publicada pelo g1, a presença maior do Comando Vermelho na região é justificada pela descentralização de sua estrutura, enquanto o PCC, por exemplo, centraliza as decisões em seus chefes de São Paulo.
"A lógica de funcionamento do Comando Vermelho é como se tivéssemos a criação de franquias associadas ao grupo [nos estados]", afirma Marques ao g1.
Disputa por rotas de tráfico
Ainda de acordo com Marques, em entrevista ao g1, o grupo criminoso do Rio tem necessidade estratégica de atuar na Amazônia e escoar drogas pela região, já que o PCC controla a chamada "rota caipira" do tráfico.
Rota Caipira do PCC
A rota caipira, segundo explicação do especialista ao g1, compreende corredores que escoam substâncias vindas das fronteiras pelo Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná até serem exportadas por portos com destino à Europa e África.
Estratégias diferentes
"O PCC, nesses outros territórios, está muito mais interessado em fazer parcerias com organizações locais e nos fluxos mais macro, do atacado do tráfico. Enquanto o Comando Vermelho tem o interesse pelo atacado e pelo varejo também e, para isso, é muito importante o controle territorial", explica Marques ao g1.
Presença varia conforme proximidade de fronteiras
A presença das facções nos estados varia conforme a localidade, segundo análise do FBSP divulgada pelo g1: quanto mais próximo da fronteira com outros países da América do Sul, mais forte e consolidada a presença de organizações criminosas.
Acre: 100% dos municípios
O Acre, que faz divisa com Peru e Bolívia, segundo dados do Fórum reportados pelo g1, tem presença de facções em 100% dos seus 22 municípios.
Tocantins: apenas 12%
Já o Tocantins, localizado no outro extremo da região, na divisa com o Nordeste, conforme informações do FBSP publicadas pelo g1, tem apenas 12% das 139 cidades com registro de grupos criminosos.
Dados completos por estado
Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado pelo g1, veja a presença de facções em cada estado:
Acre: 22 de 22 municípios (100%)
Roraima: 13 de 15 municípios (80%)
Mato Grosso: 92 de 141 municípios (65%)
Pará: 91 de 144 municípios (63%)
Amapá: 10 de 16 municípios (62,5%)
Amazonas: 25 de 62 municípios (40%)
Rondônia: 21 de 52 municípios (40%)
Maranhão (parte amazônica): 53 de 181 municípios (29%)
Tocantins: 17 de 139 municípios (12%)
Outros dados alarmantes sobre violência na Amazônia
O estudo Cartografias da Violência na Amazônia do FBSP, conforme reportado pelo g1, revelou diversos outros dados preocupantes sobre a situação de segurança pública na região:
Mortes violentas
As mortes violentas na Amazônia Legal caíram para 8.047 em 2024, mas seguem 31% acima da média nacional, segundo dados do Fórum publicados pelo g1.
Homicídios no Maranhão
O Maranhão é o único estado da Amazônia Legal que teve alta na taxa de homicídio em 2024, conforme informações do FBSP divulgadas pelo g1, com crescimento de 11%.
Amapá lidera violência
O Amapá lidera o ranking de estados mais violentos da Amazônia Legal, segundo classificação do Fórum reportada pelo g1.
Conflitos no campo
O Pará e o Maranhão lideram os conflitos no campo na Amazônia Legal, de acordo com dados do estudo do FBSP publicados pelo g1.
Feminicídios
Os feminicídios são 19% maiores na região amazônica do que a média nacional, segundo análise do Fórum divulgada pelo g1.
Estupros em alta
Os estupros subiram na Amazônia Legal, na contramão do Brasil, conforme dados do FBSP reportados pelo g1. Alarmantemente, 80% das vítimas têm 14 anos ou menos.
Controle sobre mulheres
As facções criminosas estão criando regras comportamentais para mulheres nas áreas sob seu controle, segundo denúncias documentadas pelo Fórum e divulgadas pelo g1. Essas regras chegam até a necessidade de autorização das organizações criminosas para que mulheres terminem relacionamentos.
Apreensão de drogas
A apreensão de drogas subiu 21% em 2024 na Amazônia Legal, conforme dados do FBSP publicados pelo g1, indicando tanto maior presença de entorpecentes quanto possivelmente maior efetividade policial.
Desafios para a segurança pública
Vácuo estatal
A expansão das facções criminosas na Amazônia Legal evidencia, segundo análise implícita no estudo do FBSP divulgado pelo g1, um vácuo de presença estatal em vastas regiões.
Fronteiras porosas
As fronteiras com países produtores de drogas (Peru, Bolívia, Colômbia) e com Venezuela, segundo contexto apresentado pelo g1, facilitam o tráfico internacional e a atuação de grupos estrangeiros como Tren de Aragua e ex-Farc.
Atividades ilícitas correlatas
O garimpo ilegal mencionado no estudo do FBSP, conforme reportado pelo g1, não apenas causa danos ambientais, mas também serve como fonte de financiamento e área de atuação para as organizações criminosas.
Necessidade de políticas integradas
A situação revelada pelo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo análise do g1, demanda políticas públicas integradas que combinem:
Presença efetiva do Estado em regiões remotas
Combate ao tráfico de drogas nas rotas amazônicas
Fiscalização rigorosa de atividades ilegais como garimpo
Proteção especial a populações vulneráveis, especialmente mulheres e crianças
Cooperação internacional com países vizinhos
Investimento em inteligência e tecnologia para segurança pública
Importância do monitoramento contínuo
A continuidade do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, agora em sua 4ª edição, segundo informações do g1, permite acompanhar a evolução do crime organizado na região e embasar políticas públicas com dados concretos.
O trabalho conjunto do FBSP com institutos parceiros fornece subsídios essenciais para compreensão e enfrentamento de um dos maiores desafios de segurança pública do país.
Fontes: g1, Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Instituto Clima e Sociedade, Instituto Itausa, Instituto Mãe Crioula, Laboratório Interpretativo Laiv
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